Certamente você já teve uma experiência assim: criou uma grande expectativa sobre algo ou sobre alguém, mas, no final das contas, as coisas não saíram como o esperado e você ficou frustrado. Mas o que acontece com a gente quando criamos expectativas e somos tomados pelo sentimento de frustração? E como fazer para criar expectativas menores ou mais assertivas e, consequentemente, ter menos frustrações? É sobre isso que vamos falar no post de hoje.
As células de nosso cérebro se comunicam através de substâncias químicas chamadas de neurotransmissores. A dopamina é um neurotransmissor que está intimamente ligado com o sentimento de satisfação e felicidade.
Durante muito tempo, se pensava que a dopamina era liberada no cérebro após a conclusão de uma atividade que gerou uma recompensa, ou seja, se pensava que a dopamina era liberada no momento em que nós éramos "premiados" por algo. Contudo, estudos feitos pelo mundo, especialmente pelo Prof. Wolfram Schultz, neurocientista da Universidade de Cambridge, que é uma das maiores autoridades do mundo quando o assunto é a dopamina, mostraram que, na verdade, esta substância é liberada não no momento da recompensa, mas sim no momento anterior ao recebimento dela.
Com base nos estudos do Prof. Schultz, nós podemos entender que a expectativa da felicidade está muito ligada com o aumento da produção de dopamina. É por isso que nós normalmente nos sentimos muito bem quando criamos expectativas. Pense numa viagem que decidimos fazer, por exemplo, ou quando combinamos que uma pessoa muita querida virá nos fazer uma visita. Imediatamente somos tomados por um sentimento de felicidade e empolgação. Mas, por alguma razão, a viagem não poderá mais acontecer ou aquela pessoa querida não poderá mais vir nos visitar. Imediatamente somos tomados por uma tristeza profunda, que normalmente chamamos de frustração. Isso ocorre porque os níveis de dopamina caem bruscamente e a emoção que você sente muda completamente. Se com muita dopamina o sentimento é de felicidade, com ela em queda o sentimento é de tristeza, sofrimento e até mesmo de dor.
Agora que nós sabemos o que acontece em nosso cérebro, vamos discutir um pouco sobre como, na prática, nós podemos equilibrar mais nossas expectativas e, consequentemente, diminuir a quantidade de frustrações que teremos ao longo da vida.
A primeira coisa que nós precisamos pensar é que todos nós sentimentos frustrações desde criança, quando, por exemplo, choramos porque estamos sentindo cólica ou algum outro tipo de dor, mas nossa mãe acha que estamos com fome. Nós temos a expectativa de parar de sentir a dor, mas o máximo que conseguimos é uma bela e saborosa mamadeira.
Sêneca foi um grande intelectual do Império Romano e falou muito sobre a questão das expectativas e frustrações. Ele dizia que somos muito frustrados porque esperamos demais da realidade. Ou seja, o que muitos de nós faz é ser extremamente passional quando criamos nossas expectativas. Raramente nós analisamos se aquela expectativa que estamos criando é condizente com a realidade e, por isso, as coisas não saem com esperamos, e aí vem o sentimento de frustração.
Quando a expectativa é em relação a outra pessoa, então, aí é que a coisa normalmente tende a caminhar por caminhos tortuosos. Então você precisa se questionar: “Será que essa pessoa realmente pode me dar o que espero ou fazer aquilo que estou pensando que ela fará? Será que essa quer fazer isso? Ou isso é apenas o que eu gostaria que ela fizesse ou quisesse?”
Quer ver um exemplo? Você está numa festa com amigos. Eis que surge uma pessoa nova, que você não conhece. Vocês começam a conversar, falam sobre coisas interessantes e aí acontece o momento tão desejado: vocês se beijam. Ao final da festa, vocês trocam telefones e se falam novamente no dia seguinte. Talvez até marquem pra sair de novo dali a dois, três dias. No final de semana seguinte, novamente se encontram. Você pensa: “Essa pessoa é incrível! Vamos ser um casal perfeito!” E aí vem a surpresa: a conversa sobre namoro não vem, a quantidade de ligações e mensagens passa a diminuir, os encontros também, até que a relação simplesmente passa a não existir mais.
Qual vai ser o pensamento da maioria de nós? “Essa menina não presta! Esse cara é um cafajeste! Me enganou, me usou!”
Mas vamos pensar racionalmente... Será que foi isso mesmo? Em que momento essa pessoa disse que gostaria de namorar com você? Em que momento essa pessoa disse que tinha as mesmas expectativas que você? Na verdade, você estava feliz com o que estava acontecendo e logo de cara começou a criar expectativas passionais, que não condiziam com a realidade. A pessoa que não vale nada ou você que saiu criando tantas expectativas sem saber se ela também estava na mesma página que você?
Também podemos pensar no seguinte: você começa a trabalhar em uma nova empresa e pensa: “Farei um excelente trabalho aqui, em um ano serei promovido e receberei um aumento”. Um ano se passa e o único aumento que você recebe é o aumento de trabalho empilhado na sua mesa. E aí vem o sentimento de frustração. Ora, mas quem foi que te prometeu um aumento após um ano de trabalho bem feito? Ninguém! Essa foi uma expectativa que você criou, sem qualquer embasamento na realidade. É justo que se sinta lesado e xingue seu chefe e sua empresa por isso?
O que quero dizer com isso é que muitas das nossas frustrações poderiam ser evitadas se nós fôssemos mais racionais na hora de criar nossas expectativas. Nós precisamos aproveitar o momento que estamos vivendo, o máximo que pudermos aproveitar, sem nos preocuparmos tanto com aquilo que ainda virá.
“Felipe, isso quer dizer que eu não posso fazer planos para o futuro?” Claro que pode! E deve! Mas seus planos precisam ser condizentes com a sua realidade.
Por exemplo: “Quero viajar para a Disney daqui a um ano, mas para isso preciso juntar dois mil reais por mês a partir de agora”. Ótimo, viajar para a Disney realmente exige algum planejamento financeiro antes. Mas eu te pergunto: isso é racional? Você realmente consegue juntar dois mil reais por mês para esta finalidade? Se você tem certeza disso, ótimo. Vá em frente! Mas se você pensou algo como: “É, talvez fique um pouco apertado. Mas aí eu tiro dali, diminuo aquilo lá e aí eu acho que consigo”, talvez seja melhor você adiar a viagem para daqui a dois anos, ou correrá sérios riscos de não conseguir juntar todo esse dinheiro no prazo e ficará frustrado por não viajar.
“Ótimo, então agora eu vou parar de me empolgar com as coisas e não esperar mais nada da vida, assim eu evito frustrações”.
Bom, aí você não entendeu nada do que falamos até aqui... A expectativa é positiva, ela nos gera bons sentimentos e não há nada de errado em esperar que determinadas coisas aconteçam. Aliás, podemos dizer que é saudável e faz bem criar expectativas.
Seu pensamento agora deve ser: “Bom, então antes de gerar uma determinada expectativa, eu vou analisar os cenários, as possibilidades, e ver se o que desejo é realmente possível ou se é completamente fora da realidade. Então desta forma eu vou poder ajustar minhas expectativas e terei mais chances de conquistá-las”.
Mas não pense que as decepções e frustrações não tem seu lado “positivo”. Elas podem ser muito úteis para que nos tornemos pessoas mais resilientes, fortes e resistentes aos sofrimentos da vida. Os pais, inclusive, precisam gerar pequenas frustrações em seus filhos já desde pequenos, de modo que possam aprender a lidar com as frustrações e decepções em casa, onde terão carinho e acolhimento, para que não precisem aprender com mais dor e sofrimento sozinhos, no mundo lá fora.
É bom não viver uma vida feita apenas de frustrações, mas quando estiver diante de uma, se permita senti-la. Se permita analisá-la. Se permita aprender com ela. Você deve aproveitar todas as oportunidades que a vida te dá para aprender, crescer e evoluir como ser humano. Isso, inclusive, te ajudará a superar mais rapidamente o sofrimento causado por esta frustração e a retomar a sua vida em busca da felicidade.
Bom, eu espero que você tenha gostado desse texto e que aquilo que discutimos aqui possa te ajudar a viver uma vida boa e feliz. Encaminhe para seus amigos e familiares e nos ajude a alcançar o maior número possível de pessoas. Conto com você!!!
Um abraço e até a próxima!
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